domingo, 24 de junho de 2012

O homem de Nápoles

Seu Frederico definia-se como um baiano de Nápoles, era orgulhoso de sua origem na terra da pizza, no sul da Itália.Como todo italiano passava da euforia a depressão em minutos. Suas paixões: os cães, a política e  o Napoli, seu time da Campânia.
Seu Frederico foi militante do Partido Comunista Italiano, tinha lutado contra o facismo na Itália, antes de mudar-se para o Brasil, empolgava-se ao falar do eurocomunismo ( lembram? ) e com a mania de homenagear seus ídolos, batizou seu filhos de Antônio e Palmiro. Antônio Gramsci e Palmiro Togliatti foram dirigentes históricos do PCI e do combate ao facismo italiano.
Outro dia uma amiga carioca, que adotou sp, trombou com ele pelas ruas do Paraíso e ficou surpresa com os nomes dos seus cães: Fidel e Lênin. Fiquei sabendo do encontro fortuito por uma postagem dela no Facebook. Contei para ela alguns cães do seu Frederico que eu tinha conhecido: um pequinês chamado Mao Tse Tung, um pastor alemão que virou Karl Marx e uma charmosa cadela - Rosa Luxemburgo.
Como santo de casa não faz milagre, principalmente em casa de comunista, os filhos Antônio e Palmiro não herdaram as paixões do pai.
De política queriam distância, trabalham no mercado financeiro e acompanham o vai e vem da bolsa de valores com o mesmo ímpeto que seu Frederico acompanha a eleição de um sindicato.
No futebol trocaram o charmoso Napoli, de Careca, Maradona e tantos outros craques históricos pelo Milan da prepotente Lombardia.
Como nem tudo estava perdido, sobrou a paixão pelos cães que era compartilhada com Antônio e Palmiro. Todos os domingos encontram-se para o café da manhã na padaria da Sampaio Viana e caminham até o Ibirapuera acompanhados de Fidel, Lênin, Merkel e Berlusconi.

O Homem de Nápoles - Jean Michel Basquiat
Basquiat nasceu e morreu em  New York, filho de pai haitiano e mãe portoriquenha, viveu apenas 28 anos é produziu uma arte vibrante. Para alegria de seu Frederico o quadro "O Homem de Napóles" pertence ao acervo permanente do Museu Guggenheim de Bilbao, ou melhor, Bilbo em basco.
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sábado, 23 de junho de 2012

Biriba


"Fascinar quer dizer enfeitiçar, magnetizar, encantar; igualmente, enganar."  Octavio Paz

Sou um sublimador nato, quanto mais pressionado pelo dia a dia, busco fugas para tornar menos estafante a rotina. Estimulado pelo Márcio Costa, do blog Justa Palavra, e Beatriz Ferreira, do blog Monster High Mania,  comecei a planejar um blog próprio. Primeiro como uma brincadeira no meu perfil do Facebook de publicar algumas imagens de arte contemporânea que me fascinam, depois amadurecendo que essas imagens poderiam virar postagens, com algum tipo de reflexão, nada tipo crítica de arte e sim uma tentativa de juntar algumas palavras sobre a fascinação que a imagem desperta.

Beatriz  ofereceu para cuidar do visual do blog e cobrava o nome, para que ela pudesse trabalhar. Como nominar um blog, que dificuldade! Lembro que para escolher o nome da minha filha foi difícil, a  mãe queria Barbara, eu propunha Letícia. Depois de muitas conversas e de familiares tentando palpitar onde não eram convidados, surgiu o consenso de Beatriz.

Agora era uma escolha solitária, só eu  e minhas neuroses, minhas idéias, minhas fantasias, meus medos, minhas cobranças internas. E justo ela, Beatriz que a cada dia que passava me pressionava, "como é já escolheu o nome?", "quando vai começar a postar no seu blog?".

A idéia do conteúdo do blog eu já tinha, mas o nome não surgia....Até  o conteúdo da primeira postagem eu já tinha em mente postar a imagem da obra Biriba, de Leda Catunda e comentar um pouco sobre.

Leda Catunda é paulistana como eu, se destacou nos anos 80, na chamada Geração 80 e constitui sua obra com uma característica que me fascina, pegar objetos de uso comum e transformá-los em outros símbolos. Cobertores, almofadas, cortinas e tantas outras coisas serviram de base para fazer essa arte autodenominada de "poética da maciez". Maciez refere-se ao mundo tátil, do pegar, do tocar, do sentir algo confortável. A obra da Leda Catunda é para "olhar pegando", a imagem do macio.

Escolhi Biriba como ilustração dessa primeira postagem por dois motivos: estamos em junho época que todas crianças adoram jogar suas biribas no chão para fazer aquele estalo gostoso, aquela sonoridade dos arraiais juninos e porque também é uma das formas carinhosas que eu chamo a Beatriz.

O texto ficou longo, deixo para próxima postagem a história de como surgiu a idéia de chamar o blog de "Os filhos do Barro", agora que destravou a primeira postagem acredito que a próxima será breve.

PS - Biriba é uma tela de Leda Catunda de 2004, Beatriz nasceu em 2002.