sábado, 7 de dezembro de 2013

Paulinho Perna Torta um conto de João Antonio



Nasci em 1963, portanto acabei de virar um cinquentenário. Melancolia jogada ao mar, fiquei surpreendido com alguns eventos literários que ocorreram naquele ano: "Jogos da Amarelinha", de Júlio Cortázar, foi lançado e dois importantes escritores brasileiros publicaram seu primeiro livro, Rubem Fonseca com "Os prisioneiros" e João Antônio com "Malagueta, Perú e Bacanaço".

João Antonio, por motivos óbvios, foi um cara que sempre chamou minha atenção. Nasceu no bairro de Presidente Altino, em 1937, que  pertencia a cidade de São Paulo , porém, com a emancipação de Osasco, em 1962, esse bairro deixou de ser paulistano para pertencer a nova cidade. Mudou-se para o Rio de Janeiro, que foi cenário de vários de seus contos. São Paulo esta presente em seus textos iniciais, como o premiado "Malagueta, Perú e Bacanaço" e o conto "Paulinho Perna Torta", publicado na década de 70, dentro do seu livro "Leão de Chácara".

João Antonio faz parte de um time da literatura brasileira, um time que gosta de expressar os odores da rua, as dores dos que vivem a margem, os amores e lirismo daqueles que a sociedade segrega e renega. Um time de escritores como João do Rio, Lima Barreto, Plínio Marcos, etc.

Paulinho Perna Torta narra a trajetória de um menino abandonado a sua sorte na Boca do Lixo, na São Paulo dos anos 50, que faz o percurso de engraxate explorado na Estação da Luz  a chefe da malandragem paulistana.Um roteiro pelas ruas do centro de São Paulo, pela Luz, Bom Retiro, Campos Elísios. Um espaço urbano atualmente apodrecido e desejado pelo mercado imobiliário para ser um novo centro da São Paulo do século XXI.

João Antonio tinha um percepção bem clara sobre o poder da linguagem e a disputa social,  ele deixa isso bem evidente quando fala sobre  a gíria:

"nos guetos onde vivem essas populações, nos morros, nas favelas, mais principalmente nas cadeias, nos hospícios, surge uma nova língua para desnortear os perseguidores. Então, enquanto essa gíria é um código, ela é uma gíria que tem uma força tremenda. Quando cai de posse da classe média ela começa a perder a força, inclusive porque se torna manjada".

Ler João Antonio alimenta a alma, com uma pegada simples e eficiente. A felicidade de Paulino Perna Torta é andar com sua bicicleta pelas ruas do Bom Retiro até o Pacaembu, sentindo o vento batendo contra o rosto e revivendo a São Paulo dos anos 50 do século passado.

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