domingo, 30 de dezembro de 2012

Doris Salcedo - Plegaria Muda






Doris Salcedo é uma artista plástica colombiana, sua arte reflete sobre a violência, com uma originalidade e brutalidade sufocante. A obra dela dialoga com a história de opressão, ditaduras e conflitos que permanecem ativos atualmente.

Meu primeiro contato com a obra de Doris Salcedo foi no Inhotim, museu aberto de arte contemporânea que fica em Brumadinho-MG, perto de Belo Horizonte. Neither ( Nenhum ) é uma instalação de grande porte, é um cubo branco com concreto e grades, um ambiente sufocante, onde Doris reflete sobre  quem a grade protege ou oprime:  os de dentro ou os de fora, nada diferentes das grades que cercam as casas paulistanas. A inspiração para produzir "Neither" ocorreu após Salcedo visitar Auschwitz, na Polônia.


Desde dezembro temos Doris Salcedo também em São Paulo, na Estação Pinacoteca,  com a instalação Plegaria Muda ( Prece Muda ), uma grandes obra com 120 esculturas constituídas por mesas de madeira sobrepostas tampo contra tampo , prensando um pedaço de terra e pelas fissuras da madeira das mesas  crescem pequenas plantas.





O labirinto que é percorrer os espaços entre as mesas, o cheiro e o silêncio não deixam dúvida do espaço de luto construído com essa instalação, a sensação e de caminhar entre túmulos. Novamente a obra de Doris coloca um tema evidente: a violência e a morte de milhares de jovens na Colômbia no conflito entre o exército, guerrilha e grupos paramilitares.

Nada mais atual que Plegaria Muda em São Paulo neste momento, onde uma guerra entre a polícia e o PCC deixa a cada noite que passa mais jovens mortos. Oportuno lembrar também é o espaço onde acontece a exposição: a Estação Pinacoteca, que durante mais de 40 anos serviu de sede para o DOPS, espaço de repressão política.  

Ver Plegaria Muda pode ser dolorido, mas como está escrito no térreo da Estação da Pinacoteca, onde fica o Memorial da Resistência: Lembrar é Resistir.

Doris Salcedo :  Plegaria Muda
Estação Pinacoteca
até 15 de março de 2.013





terça-feira, 27 de novembro de 2012

Valter Hugo Mãe - Prêmio Portugal Telecom

Na última segunda feira ( 26 de novembro ) foi anunciado os vencedores do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, o vencedor nas categorias Melhor Romance e o Grande Prêmio foi Valter Hugo Mãe com o livro "A Máquina de Fazer Espanhóis".

Valter Hugo Mãe participou da Flip de 2011 ( Festa Literária de Paraty )  o livro "A Máquina de Fazer Espanhóis" foi lançado no Brasil durante o evento. O livro relata as reflexões de um barbeiro que passa a viver no asilo após o falecimento de sua esposa.

No domingo, 18 de novembro, o Jornal Público e a Revista 2 divulgaram uma crônica de Valter refletindo sobre a leitura digital e o livro como objeto do desejo. Aproveito a "deixa" da premiação para divulgar o texto:


Situar



Chamar Casa de Papel a uma crónica em torno das coisas dos livros é já denunciar um saudosismo romântico. Fica um tom melancólico no ar, uma poeticidade a mudar para antiga, talvez um certo lamento. Não sou nada contra o livro digital e a maravilha que as tecnologias oferecem. Mas sou do tempo do papel e sonhei com os livros de papel. Quando pensei ser escritor, um livro assim abriu-se acima da minha cabeça imaginária como um telhado sob o qual passei a habitar
.
Guardarei sempre essa ideia, ainda que possa vir a ler em ecrãs sofisticados e frios. O livro de papel, como o coração, é um símbolo. Habituei-me a conferir-lhe determinadas mágicas que, por mais sofisticação que me assalte, não serão substituídas. O livro, esse de folhas, pulsa. O livro pulsa.

As casas de papel são modos de pensar na tangibilidade do texto, na manualidade de que ele dependeu para ser lido. São modos de pensar nos autores. Cada autor como um lugar e um abrigo. Um lugar. Ler um livro é estar num autor. Preciso de pensar nos objectos para acreditar nos lugares. Oh, nossa deslumbrante desgraça mudadora, não consigo sentir-me bonito dentro de um Kindle, de um iPad ou de um Kobo. Penso em mim melhor numa coisa entre capas. A ilustração sem pilhas. As letras sem pilhas. Eternas e sem mudanças. De confiança.

Quantas vezes, estupefacto, abri um livro na mesma página para encontrar a mesma frase da mesma maneira apresentada? E que prazer saber que a expectativa de que aquele universo se preserve não sairia gorada, porque os livros de papel são estáveis, não pensam em ser outra coisa senão por dentro das próprias palavras. Precisei muitas vezes de reencontrar páginas específicas, com o seu grafismo cristalizado, o seu grafismo diamante, a guardarem-me o que não podia perder.

Amar um livro é pedir-lhe que seja sempre nosso, assim, como um amor que se conserva para repetir ou reaprender. Como poderemos jurar fidelidade a um texto que se desliga? É como não ter sentimentos, descansar na morte, não permanecer vivo enquanto espera por nós. É infiel. Não o podemos sequer perfumar e eu tenho livros que me foram oferecidos com aroma de buganvílias e canela. Gosto muito.Os leitores, sabemos bem, são territoriais. Como os cães. Sublinhamos e não suportamos os sublinhados dos outros. Ainda que toscos, mal alinhados, são a marca da nossa passagem por ali. É a reclamação da posse. Como os cães. Como, pois, dar provimento a essa natureza num ecrã? Que efeito terá uma linha mandada traçar por um comando asséptico que não se pode comparar com o chichi? O dos cães.Faz-me sofrer. Confesso. Faz-me sofrer.

http://www.publico.pt/cultura/noticia/xxx-situar-1573347

sábado, 24 de novembro de 2012

Calouste Gulbekian - As Idades do Mar


Calouste Sarkis Gulbekian foi um mecenas, de origem armenia, nascido em Istambul, empresário do ramo petrolífero que deixou uma imensa coleção de arte, transformada no Museu Calouste Gulbekian de Lisboa.

Desde o final de outubro a Fundação Calouste Gulbekian apresenta a exposição "As Idades do Mar" uma feliz tentativa de refletir a relação do mar com a sociedade ocidental através dos tempos, reflexão feita através de pinturas de diferentes épocas.

A proposta da curadoria é de abordar o mar através de idades, sem linearidades cronológicas, mas buscando seis momentos metafóricos da vida do homem com o mar.

A Idade dos Mitos -  Os mares agitados são povoados por divindades - Vênus, Neptuno, etc...


A Idade do Poder - As grandes navegações oceânicas - as potências marítimas europeias;


A Idade do Trabalho - A dureza da sobrevivência humana, a  pesca e o comércio marítimo;


A Idade das Tormentas - A força monumental da natureza e a audácia do homem em navegar;


A Idade Efémera - A praia como lugar de passeio, as temporadas de veraneio e os banhos de mar;


A Idade Infinita - O mar como desejo de evasão, que convoca o sentimento da eternidade.


Em tempos de crise da comunidade européia, onde os países do sul da europa vivem uma situação social e econômica tensa, o mar no imaginário lusitano sempre evoca uma fuga...uma melancolia. Tanto mar....navegar!!!

Veja mais no site:

http://www.museu.gulbenkian.pt/expoasidadesdomar_por/index.html






sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Pablo Trapero e Ricardo Darín em Elefante Branco


O cinema argentino consegue como ninguém contar grandes histórias, nos  últimos anos uma grande safra de competentes filmes argentinos fez uma multidão da fãs. Suas marcas são histórias com forte características humanistas, ironia, grande capacidade de fazer comédia com a própria desgraça, porém, com uma singela elegância.

Ricardo Darín é o rosto desse novo cinema argentino, a parceria com o diretor Juan José Campanella em O Filho da Noiva, Luna de Avellaneda e o premiado com o Oscar "O Segredo dos seus Olhos", todos com narrativas que emocionam pelo seu humanismo, pelos seus personagens cativantes renderam fama e sucesso.

Já a parceria de Darín com Pablo Trapero tem outra pegada, Trapero é visceral, seus filmes são de uma violência devastadora. Em Abutres, ludibriando pessoas vítimas de acidentes para beneficiar-se dos seguros, simulando acidentes para dar golpes nas companhias de seguro, desvendendo uma verdadeira máfia que vive em função desse crime.

Em "Elefante Branco" ,que estreou agora em SP, Trapero mostra um outro lado de Buenos Aires, o lado da miséria, uma favela criada em torno do esqueleto de um hospital, uma obra que não virou, um desses típicos projetos dos governos do passado, um hospital , que deveria ser o maior da América Latina e que vira um gueto tomado pelos narcotraficantes, onde na sua cobertura rola uma verdadeira cracolândia ( ou seria pacolândia ). Quanto tempo SP também teve seu esqueleto hospitalar na Av. Dr. Arnaldo, só não teve o mesmo processo de ocupação por causa da sua localização "nobre".

Darín é um religioso, um padre envolvido com a comunidade, tentando levar cidadania para aquele povo, no fogo cruzado da poder político, da cúpula da Igreja Católica e dos traficantes.

Impossível não comparar Cidade de Deus com Elefante Branco. O cinema argentino que focava a classe média portenha com esse novo filme de Trapero mostra a miséria, a favela, o tráfico , o "paco".


Impossível não relacionar o Padre Julián, o personagem de Darín, com vários religiosos que existem nas periferias, que herdeiros da Teologia da Libertação, hoje percebem a cúpula religiosa focada mais na liturgia, esquecendo uma tal de "opção preferencial pelos pobres" existente no passado, tempos atuais ditados por Ratzinger, vulgo Rottweiller de Cristo.


domingo, 21 de outubro de 2012

36 anos da Mostra de Cinema de SP



A segunda quinzena de outubro sempre causa um entusiasmo nos cinéfilos de sp é o período onde acontece a tão esperada Mostra de Cinema de SP. A deste ano será primeira que vai acontecer após a morte do seu criador Leon Cakoff.
Resolvi postar uma pequena memória de alguns filmes que assisti na Mostra.


"O Elemento do Crime" filme de Lars von Trier, primeiro filme que eu assisti desse polêmico e fantástico dinamarquês,  sai do filme com aquela sensação de ter visto uma coisa estranha mas interessante, aliás, a mesma sensação que eu tenho em  quase todos os filmes de von Trier.

O Sacrífio, de Andrei Tarkovski, nunca fui fã da filmografia de Tarkovski, aliás,  está em retrospectiva nesse ano, faz parte da minha seleção pelo lado afetivo, lembro da sessão no antigo Cine Metrópole, uma das sedes mais charmosas por onde a Mostra passou, o filme foi um sacríficio, pero, a companhia....hehehe.


Rosa Luxemburgo, de Margarethe von Trotta um lindo filme que retrata a líder comunista que com firmeza e sutileza enfrentou Lênin e o conservadorismo alemão pré República de Weimar e o Nazismo.



Capitães de Abril, de Maria de Medeiros, o relato da Revolução dos Cravos, em Portugal, minha descoberta de Maria de Medeiros e da minha identidade lusitana.

Depois do Metrópole, um desses maravilhosos cinemas fora de shopping que foi fechado,  meu lugar predileto para assistir filmes da Mostra é a sala BNDES da Cinemateca, umas das salas mais belas de sp. Foi lá que eu assisti o ano passado "Os hipopótamos de Pablo Escobar" e que devo assistir alguma novidade nessa edição.



domingo, 14 de outubro de 2012

Arthur Bispo do Rosário na Trigésima Bienal

Um dos destaques da Trigésima Bienal de São Paulo é um conjunto de 348 obras de Arthur Bispo do Rosário. Sergipano, de Japaratuba, virou marinheiro no RJ e passou meio século internado em um hospital psiquiátrico ( Colônia Juliano Moreira ).

Produziu sua obra com a total ausência de formação acadêmica e excluído do convívio social, dentro da Colônia Juliano Moreira reprocessava os objetos que chegavam até ele. Desfiava o seu próprio vestuário para usar como linha, que bordava lençóis, cobertores, jaquetas.Reunia série de objetos reprocessando o significado, como a imagem acima, dos diversos Congas usados pelos internos, o que seria o signo da igualdade, os Congas tornam-se um estandarte.

Nos anos 80 com o olhar da arte contemporânea e a antipsiquiatria Bispo do Rosário e reconhecido como artista, em 82 participa de sua primeira exposição "A Margem da Vida" no Museu de Arte Moderna do RJ.Após sua morte, em 89, ganha reconhecimento internacional, e em 1995 representa o Brasil na Bienal de Veneza.
Arte e loucura; delírio e processo de criação; a coleção de objetos em desuso, rejeitados pela sociedade e o centro da sua arte, como ele que também foi rejeitado, vivendo mais de 50 anos isolado no hospício.


Visite a Bienal de SP, tente decodificar o universo de Arthur Bispo do Rosário, a sanidade da loucura. Seja feliz!!






quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Copan - Niemeyer no centro de SP



Niemeyer projetou dois dos maiores cartões postais de sp, o Ibirapuera e o Edifício Copan. O Copan junta em um edifício tudo que todos os urbanistas defendem para revitalizar o centro de SP: residências, lazer e um centro comercial.

Sempre admirei aquela onda de concreto na Av. Ipiranga, em alguns períodos da minha vida trabalhei perto do Copan e descobria a forma de interagir com ele. Lembro que no fim da década de 70 ter assistidos filmes no imenso Cine Copan, que logo virou uma Igreja evangélica; depois descobri uma cafeteria nas suas entranhas o Café Floresta, muito antes de ouvir falar em baristas e em blends de grãos de café, o Floresta, na loja 21 do Copan, mostrava um aroma e gosto especial.

Nos últimos anos fui seduzido por dois outros locais do Copan: a filial da Padaria Santa Efigênia, que instalou-se na ponta mais próxima da Consolação e o Dona Onça, mix de bar / restaurante que fez com que eu fosse ao centro aos domingos, pq durante o almoço na semana a fila é imensa.


Hoje descobri uma nova face do Copan: uma galeria de arte. Pivô é o nome, tem uma auto definição complicada: " o Pivô pretende ser um espaço de arte e pesquisa independente, com relações institucionais menos burocráticas que envolve artistas e pesquisadores numa discussão contínua sobre o espaço do imóvel no Copan e o momento de revitalização em que se encontra a região central dedicando mais atenção às particularidades de cada projeto, e propiciando aos artistas e pesquisadores convidados possibilidades de intervenções críticas mais abertas."

Eu definiria com mais simplicidade: oxigênio e inteligência no Copan.

"Da próxima vez eu fazia tudo diferente" é a primeira exposição, o título vem do curta metragem "Documentário" de Sganzerla, que é projetado numa parece logo na entrada do espaço expositivo. Vários artista em um ambiente insólito, a instalação "Dimensão Encerrada" de Lucas Simões, um labirinto dentro de um ambiente desarticulado merece ser vivenciada.

Descubra o centro de sp, descubra o Copan e visite Pivô






terça-feira, 11 de setembro de 2012

Inca Kola y Chicha Morada



O Brasil mudou muito nos últimos anos, o ciclo virtuoso da economia com a entrada no mercado consumidor de mais de 40 milhões de brasileiros que antes estavam renegados a miséria.

O Brasil passou a ser destino de busca de empregos de outros povos: haitianos, portugueses, espanhóis e principalmente nossos vizinhos da América do Sul.

Esse novo ciclo imigratório começa a mudar a cara de alguns bairros de sp: Brás, Pari e Santa Ifigênia tem hoje uma grande população de bolivianos, peruanos e paraguaios. Atraídos pelo bom momento econômico brasileiro vieram para sp em busca de trabalho.
Isso possibilita uma boa oportunidade de descobrirmos identidades com nossos hermanos, identidades histórica do processo de exploração dos colonizadores ibéricos e da submissão aos grandes interesses globais.

Essa história similar é uma faceta, outro aspecto delicioso é de poder entrar de cabeça na cultura de nossos vizinhos: descobrir a música, a gastronomia, a artes etc.Deixando de lado velhos preconceitos.

Um dos marcos dessa presença é a feira da Kantuta que todo domingo acontece no Pari, é ali que os bolivianos que trabalham na região viabilizam um pedacinho dos Andes em sp.  Salteñas, diferentes tipos de milho e batata, aji, cerveza Paceña, refrigerante Inca Kola estão lá para serem descobertos pelos visitantes.

O Perú que virou moda no mundo gastronômico, também se faz presente em sp, seja pelos restaurantes sofisticados de chefs conceituados como o La Mar ( no Itaim Bibi ) ou Killa ( em Perdizes ).
Outro dia fui visitar, com meu comparsa Márcio Costa, o outro lado da gastronomia peruana, o Riconcito Peruano. Riconcito fica quase na esquina da Aurora com a Guaianases ( sim no coração da cracolândia ) ao lado de um daqueles famosos hotéis de curta permanência da Rua Aurora, no número 54l da Aurora não tem placa, só uma escada que leva para o salão no andar de cima.  Arrisque-se vale a pena. Devorei um Lomo Saltado a lo pobre, Márcio foi mais arrojado, comeu um Mexido Peruano, uma espécie de paella sem açafrão e com ovos mexidos. Porção farta e conta paga com poucos reais.
O salão do Riconcito tem uma tv passando vídeos de pop latino, uma grande oportunidade para conhecer mais da música que é feita por nossos vizinhos.

Abaixo um vídeo de um encontro que rolou no Rock in Rio, do ano passado,  Tiê e o uruguaio Jorge Drexler cantando em português e espanhol "Você não vale nada", imperdível:



sábado, 8 de setembro de 2012

Lygia Clark - Primavera das Artes em sp


"Caminhando, acaba a autoria da obra de arte" Lygia Clark

O  início de setembro em sp tem uma secura absurda, que maltrata meus pulmões, mas como tudo na vida tem múltiplas facetas, nessa mesma época, em função Bienal, a cidade está com uma concentração delirante de exposições de arte.

Em período de muito trabalho e pouco tempo livre para aproveitar as coisas boas da cidade, nesse feriado tive que fazer escolhas , opções: filas impressionantes e impressionistas no Centro Cultural BB; as cores berrantes do barroco de Caravaggio no Masp, a pegada street art do grupo SHN, na Choque Cultural, a própria Bienal com Arthur Bispo do Rosário no Ibirapuera, Adriana Varejão minha musa absoluta no MAM e Lygia Clark no Itaú Cultural.

Como tenho a teoria que quem gosta de fila é masoquista, fugi do Centro Cultural BB e do Masp, optei por ir no Itaú Cultural, me dei bem!! Adorei a exposição "Lygia Clark - Uma retrospectiva", super bem montada, com muitas atividades interativas, que para quem vai com criança é fantástico, pq essa pegada lúdica da interatividade desperta a curiosidade da criança para a obra e o artista.

Na minha pobre história da arte brasileira, Lygia Clark sempre esteve relacionada com os movimentos concretos e neoconcretos, parcerias com Hélio Oiticica. A exposição revela outras facetas, extrapolando rótulos e escolas, radicalizando conceitos em suas experiências sensorias. Imperdível calçar sapatos magnéticos e caminhar nos "Campo de Minas" instalação para descarregar a bateria do seu celular e abrir sensações inéditas em um simples andar.

Ver e interagir com a exposição de Lygia Clark faz bem para a alma, para os sentidos, olhar para como as crianças apropriam-se das obras é um estado de auto conhecimento revelador. 

Depois de sair de Itaú Cultural caminhar pelo jardim da Casa das Rosas e tomar  um sorvete numa tradicional sorveteria da Rua Rafael de Barros completa uma bela tarde de sol de sábado.

Visite:
www.lygiaclark.org.br

PS1: Ter ao mesmo tempo Lygia Clark, Arthur Bispo Rosário, Adriana Varejão e Caravaggio pode revelar muito da loucura das pessoas e da cidade. Em sp ninguém é normal.

PS2: Domingão promete: jogo do Juventus pela manhã e Adriana Varejão como atração vespertina.




domingo, 26 de agosto de 2012

Nosocômio alhures exarou!!



A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, 
tenho mátria
E quero frátria


Irrita-me um pouco a falta de diversidade no vocabulário que as pessoas têm para manifestar suas idéias. A palavra zoar é um exemplo disso, hoje ele é usada com diversos sentidos sempre com o intuito de abreviar uma idéia.

No outro lado dessa história tem uma linguagem bacharelesca que alguns guetos técnicos usam que também arrepia a alma, tenho urticária quando alguém diz algo tipo " na literatura médica pesquisada registrei casos..."  literatura como sinônimo de produção científica é de matar...

Essa postagem não tem o sentido de ser algo rabugento, mas comentar sobre uma nova palavra que descobri nessa semana. Estava nas minhas atividades rotineiras de ler relatórios técnicos quando deparei-me com o "nosocômio" no meio do texto.Fui até o Houaiss é descobri o sentido e passei a brincar com ele.

Uma parceira para essas brincadeiras é a Beatriz, ela se diverte com os sentidos diferentes que o mundo lusitano e brasileiro tem com as palavras. Ela dá grande gargalhadas com essas situações, lembro dela numa sorveteria tentando entender o que seria um Gelado Pastilha Elástica.
Propus que ela desse o significado para três palavras, nosocômio, alhures e exarar e olha o que veio:

Nosocômio: Um centro comercial de nozes;
Alhures: O marido da Alheira ( um embutido típico lusitano de origem judaica feito de pão e alho ) e
Exarar: Soltar pum!

Lógico que nenhum dos sentidos por ela proposto tem qualquer proximidade com os sentidos reais dessas palavras, porém, renderam ótimas gargalhadas numa manhã de sábado.

Para facilitar uma preguicinha básica de tentar entender o texto pelo contexto,  abaixo os sentidos de algumas palavras desse texto:

Alhures =  Em outro lugar
Exarar =  Registrar por escrito
Frátria = Reunião de cidadãos para fazer sacrifícios aos Deuses
Gelado de Pastilha Elástica = Sorvete de Chiclete
Nosocômio = Hospital


Agora o pentelho do zoar tem todos esses sentidos abaixo:

verbo intransitivo
1    fazer grande ruído; emitir ou produzir som forte e confuso
Ex.: <aquelas crianças não paravam de z.> <as máquinas zoavam incansáveis>
intransitivo
2    produzir ruído ao voar (inseto, p.ex., abelha, besouro, mosca etc.); zumbir
intransitivo
3    produzir ruído semelhante ao dos insetos; zumbir, sibilar
transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo
4    Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
     fazer troça de; rir de alguém ou fazer-lhe uma brincadeira, por divertimento; caçoar, gozar
Ex.: <zoava a pobre irmã na presença de todos> <não me leves a mal, estava apenas zoando contigo> <você não está falando sério, está zoando, não é?>
intransitivo
5    Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
     ocupar-se de maneira prazerosa; ir a algum lugar onde há divertimento; divertir-se
Ex.: em vez de estudar, saiu para z.
intransitivo
6    Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
     promover confusão, desordem
Ex.: aqueles baderneiros foram à discoteca para z.


Etimologia
orig.onom., talvez alt. de soar

Sinônimos
ver sinonímia de retumbar





domingo, 12 de agosto de 2012

Ano Ora Pois



No dia 7 de setembro começará o ano Brasil Portugal com duração até 10 de junho de 2013, o evento vai divulgar a cultura portuguesa contemporânea no Brasil e a brasileira em Portugal. Os eventos começam no Brasil com shows da cantora de fados Mariza e em Portugal apresentações de Ney Matogrosso, Monobloco e Martinho da Vila.
Apesar de toda a história em comum é chocante o desconhecimento no Brasil da produção cultural contemporânea portuguesa. O senso comum brasileiro acha que cultura portuguesa resume-se a Camões, Fernando Pessoa e José Saramago na literatura e Amália Rodrigues e Roberto Leal na música. Uma redução terrível de possibilidades de identidades culturais.
Pensando nisso fiz uma breve coletânea de algumas interações musicais entre Brasil e Portugal:


 Maria de Medeiros é atriz, cantora e diretora de cinema, tem participações em filmes como: Pulp Fiction, Henry & June e Capitães de Abril, filme que também dirigiu.


Pedro Abrunhosa é um músico de formação erudita que enveredou-se pelo pop, tem participações em filmes de Manoel de Oliveira e muita interação com a música brasileira. Torcedor do Boavista, tipo um Juventus da cidade do Porto.


"Tanto Mar" de Chico Buarque é um clássico dessa interação, feita em homenagem a Revolução dos Cravos, que derrubou o longa período de ditadura iniciado com Salazar, a música foi censurada pela ditadura brasileira. Quando liberada Chico fez pequenas alterações na letra, com o desencanto dos caminhos trilhados no pós Revolução dos Cravos.

A letra de 1975:

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim 

A letra de 1978,   versão que virou definitiva:

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

O ano Portugal no Brasil pode ser um momento  para descobrir o que está perto, porém, sem estar revelado.

A imagem de abertura é Miss Jasmine, obra da artista contemporânea portuguesa Joana Vasconcelos.

sábado, 28 de julho de 2012

Cannoli na Javari - Forza Seo Antônio


Eu adoro futebol, a emoção de uma partida, o imponderável do jogo, o antes, o durante e pós jogo, tudo isso me deixa fascinado. Comecei acompanhar futebol na década de 70, pós México, durante mais de 20 anos fui aguardando o tão sonhado tetracampeonato mundial da seleção brasileira.
Lembro nos anos 80 as músicas comentarem essa ansiedade, o clássico Itamar Assumpção com a sua Luzia

" Você nem vai ter o prêmio de consolação
Quando eu pintar, trazer a taça de tetracampeão
E uma foto no jornal
Chega pra lá Luzia, ainda vou desfilar
Tetracampeão Luzia, porta estandarte"

O trauma da derrota para Itália, na Copa de 82, inspirou um hino da década perdida, a música Inútil do Ultrage a Rigor:

A gente não sabemos
Escolher presidente
(...)

A gente faz música
E não consegue cantar
A gente escreve livro
E não consegue publicar
A gente escreve peça
E não consegue encenar
A gente joga bola
E não consegue ganhar.

Quando ganhamos em 94 a Copa dos EUA foi sem emoção, com assepsia, razão e negócio acima de tudo. O futebol tinha mudado. A famosa profissionalização é um tiro certeiro na emoção, no prazer. 

Descobri uma forma de manter viva a emoção do futebol: ir assistir jogos do Juventus na rua Javari, qualquer que seja a divisão que o Moleque Travesso esteja, qualquer que seja o adversário.

A Javari é um templo romântico do esporte, onde moleques em busca da fama e grana misturam-se com veteranos vivendo o ostracismo no campo. Nas arquibancadas aposentados misturam-se com a juventude mooquense, criando uma energia vibrante. Personagens insólitos não faltam, daqueles que acompanham o jogo no alambrado fazendo marcação homem a homem no bandeirinha; o grito de guerra da torcida toda vez que o goleiro do time adversário vai bater o tiro de meta, que ao tocar o pé na bola ouve um sonoro "fdp", etc.



Uma marca do futebol da Javari é ter uma iguaria siciliana: o cannoli. Um doce feito com uma massa doce frita em formato de um pequeno tubo recheado com creme a base de baunilha. O chef Sérgio Xavier contou que a origem provável do cannoli seria a utilização do resto de massa,   recheada com o resto do queijo ( ricota ),  a utilização dessas "sobras" teria dado origem ao cannoli.

A Javari tem filas imensas no intervalo e no final do jogo para comprar o Cannoli, quem comercializa esse doce siciliano e o Seo Antônio, um desses personagens de filme de Fellini que passeiam por esse bairro paulistano.

Hoje fui na Javari, assistir Palmeiras B e Juventus, Seo Antônio não estava lá, sofreu um infarte e está internado no Hospital, seus filhos e sua esposa estavam lá, a fila imensa na hora do intervalo, comprova um comentário comum da Javari:  o locutor anuncia o público pagante, hoje mais de 1.500 pessoas e depois a quantidade canollis vendidos algo em torno de 6 mil unidades. Seo Antônio faz falta, os meninos vacilaram no final e o Palmeiras ganhou de 3 x 2. Volta Seo Antônio!!!


Quem ainda não teve o prazer de assistir um jogo na Javari, veja o vídeo que a ESPN produziu sobre o seo Antônio, o Sr. Cannoli:


sábado, 21 de julho de 2012

A vida não está sopa



Entre as diversas características de SP que me deixam fascinado,uma se destaca:certos lugares insólitos que misturando gastronomia, boêmia e cultura entram para o universo mítico da cidade.Alguns exemplos: o bauru do Ponto Chic do Paiçandú, o sanduíche de pernil do Estadão, o churro da Mooca, o cannoli da Javari, a fugazza do Amigo Gianotti, etc.

A Sopa de cebola do Ceagesp também faz parte dessa categoria.A história da sopa de cebola remonta ao final dos anos 60 quando ela era servida no inverno, no antigo restaurante do Ceasa para os comerciantes e compradores que madrugavam na Vila Leopoldina. O sucesso superou esse público e espalhou-se pela cidade, tornado a sopa de cebola do ceasa um programa obrigatório para os amantes da noite paulistana.



Recentemente o Ceagesp organiza no inverno um festival de sopas, além da tradicional sopa de cebola ( em duas versões normal e granitada ), existem mais três opções que variam a cada semana, na minha última visita lá tinha: Roquefort com brócolis, mandioquinha com bacalhau e canja. 

Programa para ser feito com calma, tranquilidade, esperando sua mesa na fila e apreciando com vagar as iguárias, tudo bem no estilo slow food.


Nas madrugadas frias de SP também existe uma outra sopa tradicional: é a sopa da solidariedade. Não tem o requinte dos caldos e cremes dos restaurantes paulistanos, não possui o glamour  underground da sopa do Ceagesp, mas alimenta e esquenta corações e estomagos da população de rua da cidade. Preparada e servida por ONGs, religiosos e outros grupos solidários que tentam minimizar o sofrimento de um dos grupos sociais mais excluídos da cidade.

Para espanto geral tivemos recentemente a notícia que essa distribuição de sopa estava proibida. O prefeito da cidade proibiu essa legião de altruístas de servirem o sopão à população de rua. Evangélicos, católicos e ateus escandalizaram-se com tal falta sensibilidade, tal brutalidade.

Só a mentalidade insana e tacanha de alguém que " quer por fim na alegria da cidade" podia pensar nisso, foi ele: "Foi Cá, Sabe" - 


Já vai tarde!!!!!

Vídeo caseiro muito estiloso que rola no youtube.

A sopa do Ceagesp tem um blog: http://festivaldesopasceagesp2012.wordpress.com/

terça-feira, 17 de julho de 2012

Noborigama



Noborigama

Noborigama é uma técnica de produção de cerâmica, feita através de forno a lenha com  câmaras interligadas que conseguem atingir temperaturas superiores a 1.300 graus centígrados. Noborigama é uma técnica milenar oriental, noborigama quer dizer "o forno que sobe" ( nobori = rampa e gama =  forno ).

A singularidade do noborigama é que, no processo da queima, a peça torna-se única e original, pois o fogo interage diretamente com o barro. As cinzas criam uma película brilhante na parte externa da cerâmica, que no processo com o forno elétrico não existe, devido à uniformidade do calor. 

Nos anos 70, um arquiteto português estudando cerâmica no Japão, para fugir da ditadura de Salazar, conhece um casal de ceramistas japoneses e com eles realizam aqui no Brasil a montagem de um ateliê de cerâmica noborigama. O acaso coloca o Brasil na rota de artistas que com o fogo, o barro e as cores  buscam sua liberdade.



Em 1975 um pequeno grupo de ceramistas conseguem em comodato a área do desativado Matadouro de Cunha, cidade localizada na divisa de SP com RJ, que tinha as características de clima e solo adequadas para a cerâmica. O barro de Cunha é rico em óxido de ferro e caulim que possibilitam uma boa resistência as altas temperaturas, coloração e absorção do esmalte.

A partir do Ateliê do Matadouro  construíram um polo de cerâmica de alta temperatura  e de turismo na cidade de Cunha. Artistas como os pioneiros Alberto Cidraes e Mieko, Suenaga & Jardineiro e uma segunda geração como Augusto Campos e Leí Galvão tem seus ateliês abertos para que o visitante possa admirar o resultado do fogo e do barro transformado em arte.



Passar pelas montanhas de Cunha, visitando os ateliês de cerâmistas é trombar com a história do Brasil, Cunha está no trajeto da Estrada Real, do ouro que vinha de MG para ser embarcado no porto de Paraty com destino a metrópole.  Outro acontecimento histórico que tem Cunha como cenário é a reação da oligárquia paulista à Getúlio Vargas, combates da chamada "Revolução de 1932" aconteceram na região.

Uma viagem à Cunha, pode proporcionar arte, história e aventura, nada como arriscar-se na precária estrada de terra que liga Cunha - Paraty, no coração da Serra do Mar e da Serra da Bocaína. Tudo isso a apenas 250 km de São Paulo.


sábado, 7 de julho de 2012

Estórias Abensonhadas


Em uma semana agitada em SP com muitos ruídos e todas as estridências das paixões, do objeto do desejo conquistado, consegui sair desse clima de ufanismo e penetrar no delicioso mundo do Mia Couto, escritor nascido em Moçambique, com sua escrita sútil desvenda misterios da existência humana.

Revelo que procuro acompanhar a literatura de língua portuguesa contemporânea escrita fora do Brasil, autores que proporcionam prazeres singulares como: Inês Pedrosa, Helder Macedo, Valter Hugo Mãe e António Lobo Antunes.

Conheci a obra do Mia Couto através do romance "Um Rio chamado Tempo, Uma casa chamada terra" e fiquei extasiado. O livro de contos " Estórias Abensonhadas" chegou através de um presente, fico imaginando como é preciso ser sábio para indicar um livro, para fazer essa conexão das sensibilidades do autor e do leitor.

Os curtos contos de "Estórias abensonhadas" são abençoados e sonhados, abençoados não no sentido religioso, mas no significado de afortunado, fecundo, próspero. Mocambique parece tão distante, perdidos em seus conflitos políticos, sua guerra insana, na afastada África. E cada página que leio sinto tão próxima, tão sintonizada com nossa realidade.

Uma imagem reincidente de alguns contos fica martelando minha cabeça, o personagem enterrando-se. Seja a menina Novidadinha que foi colhida como uma flor pela terra, em " As flores de novidade "; como  Hortência, que para homenagear o falecido marido, deita-se na vala para que o companheiro morto venha abraçá-la, em "O calcanhar de Virgílio".
Deslumbrante é " O Cachimbo de Felizbento", onde com a chegada da guerra, Felizbento teria que sair de sua terra, sem poder levar suas árvores. Primeiro pensa em remover as árvores, levá-las consigo, mas desiste e prefere se enterrar naquela terra, gerando uma nova árvore, que na hora dos belos poentes africanos esfumaça, igual a uma chaminé.  

Certo dia caminhando esfomeado, procurando um lugar para comer em uma viagem, fiquei intrigado com o nome do restaurante: Inhaca. Entrei nele pensando como um restaurante podia ter um nome que remetia a fedor, catinga, má sorte conforme revela o Houaiss. Descobri que Inhaca é uma ilha, paradisíaca, na entrada da baia de Maputo, em Moçambique. Nada como Mia Couto, Lobo Antunes, Cesária Évora para revelar a África colonizada por Portugal, tão perto e tão longe do Brasil.

Adriana Varejão é artista plástica carioca, surgiu com a Geração 80, seu trabalho tem uma visceralidade extrema.No Inhotim, em Brumadinho-MG, tem um pavilhão dedicado à sua obra. Um dos elementos que marcam sua obra são os azulejos, a técnica de azulejaria lusitana.
Língua com Padrão Sinuoso é um tela de 1998 e pertence a série "Ruínas de Charque"

domingo, 24 de junho de 2012

O homem de Nápoles

Seu Frederico definia-se como um baiano de Nápoles, era orgulhoso de sua origem na terra da pizza, no sul da Itália.Como todo italiano passava da euforia a depressão em minutos. Suas paixões: os cães, a política e  o Napoli, seu time da Campânia.
Seu Frederico foi militante do Partido Comunista Italiano, tinha lutado contra o facismo na Itália, antes de mudar-se para o Brasil, empolgava-se ao falar do eurocomunismo ( lembram? ) e com a mania de homenagear seus ídolos, batizou seu filhos de Antônio e Palmiro. Antônio Gramsci e Palmiro Togliatti foram dirigentes históricos do PCI e do combate ao facismo italiano.
Outro dia uma amiga carioca, que adotou sp, trombou com ele pelas ruas do Paraíso e ficou surpresa com os nomes dos seus cães: Fidel e Lênin. Fiquei sabendo do encontro fortuito por uma postagem dela no Facebook. Contei para ela alguns cães do seu Frederico que eu tinha conhecido: um pequinês chamado Mao Tse Tung, um pastor alemão que virou Karl Marx e uma charmosa cadela - Rosa Luxemburgo.
Como santo de casa não faz milagre, principalmente em casa de comunista, os filhos Antônio e Palmiro não herdaram as paixões do pai.
De política queriam distância, trabalham no mercado financeiro e acompanham o vai e vem da bolsa de valores com o mesmo ímpeto que seu Frederico acompanha a eleição de um sindicato.
No futebol trocaram o charmoso Napoli, de Careca, Maradona e tantos outros craques históricos pelo Milan da prepotente Lombardia.
Como nem tudo estava perdido, sobrou a paixão pelos cães que era compartilhada com Antônio e Palmiro. Todos os domingos encontram-se para o café da manhã na padaria da Sampaio Viana e caminham até o Ibirapuera acompanhados de Fidel, Lênin, Merkel e Berlusconi.

O Homem de Nápoles - Jean Michel Basquiat
Basquiat nasceu e morreu em  New York, filho de pai haitiano e mãe portoriquenha, viveu apenas 28 anos é produziu uma arte vibrante. Para alegria de seu Frederico o quadro "O Homem de Napóles" pertence ao acervo permanente do Museu Guggenheim de Bilbao, ou melhor, Bilbo em basco.
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sábado, 23 de junho de 2012

Biriba


"Fascinar quer dizer enfeitiçar, magnetizar, encantar; igualmente, enganar."  Octavio Paz

Sou um sublimador nato, quanto mais pressionado pelo dia a dia, busco fugas para tornar menos estafante a rotina. Estimulado pelo Márcio Costa, do blog Justa Palavra, e Beatriz Ferreira, do blog Monster High Mania,  comecei a planejar um blog próprio. Primeiro como uma brincadeira no meu perfil do Facebook de publicar algumas imagens de arte contemporânea que me fascinam, depois amadurecendo que essas imagens poderiam virar postagens, com algum tipo de reflexão, nada tipo crítica de arte e sim uma tentativa de juntar algumas palavras sobre a fascinação que a imagem desperta.

Beatriz  ofereceu para cuidar do visual do blog e cobrava o nome, para que ela pudesse trabalhar. Como nominar um blog, que dificuldade! Lembro que para escolher o nome da minha filha foi difícil, a  mãe queria Barbara, eu propunha Letícia. Depois de muitas conversas e de familiares tentando palpitar onde não eram convidados, surgiu o consenso de Beatriz.

Agora era uma escolha solitária, só eu  e minhas neuroses, minhas idéias, minhas fantasias, meus medos, minhas cobranças internas. E justo ela, Beatriz que a cada dia que passava me pressionava, "como é já escolheu o nome?", "quando vai começar a postar no seu blog?".

A idéia do conteúdo do blog eu já tinha, mas o nome não surgia....Até  o conteúdo da primeira postagem eu já tinha em mente postar a imagem da obra Biriba, de Leda Catunda e comentar um pouco sobre.

Leda Catunda é paulistana como eu, se destacou nos anos 80, na chamada Geração 80 e constitui sua obra com uma característica que me fascina, pegar objetos de uso comum e transformá-los em outros símbolos. Cobertores, almofadas, cortinas e tantas outras coisas serviram de base para fazer essa arte autodenominada de "poética da maciez". Maciez refere-se ao mundo tátil, do pegar, do tocar, do sentir algo confortável. A obra da Leda Catunda é para "olhar pegando", a imagem do macio.

Escolhi Biriba como ilustração dessa primeira postagem por dois motivos: estamos em junho época que todas crianças adoram jogar suas biribas no chão para fazer aquele estalo gostoso, aquela sonoridade dos arraiais juninos e porque também é uma das formas carinhosas que eu chamo a Beatriz.

O texto ficou longo, deixo para próxima postagem a história de como surgiu a idéia de chamar o blog de "Os filhos do Barro", agora que destravou a primeira postagem acredito que a próxima será breve.

PS - Biriba é uma tela de Leda Catunda de 2004, Beatriz nasceu em 2002.