sábado, 7 de julho de 2012

Estórias Abensonhadas


Em uma semana agitada em SP com muitos ruídos e todas as estridências das paixões, do objeto do desejo conquistado, consegui sair desse clima de ufanismo e penetrar no delicioso mundo do Mia Couto, escritor nascido em Moçambique, com sua escrita sútil desvenda misterios da existência humana.

Revelo que procuro acompanhar a literatura de língua portuguesa contemporânea escrita fora do Brasil, autores que proporcionam prazeres singulares como: Inês Pedrosa, Helder Macedo, Valter Hugo Mãe e António Lobo Antunes.

Conheci a obra do Mia Couto através do romance "Um Rio chamado Tempo, Uma casa chamada terra" e fiquei extasiado. O livro de contos " Estórias Abensonhadas" chegou através de um presente, fico imaginando como é preciso ser sábio para indicar um livro, para fazer essa conexão das sensibilidades do autor e do leitor.

Os curtos contos de "Estórias abensonhadas" são abençoados e sonhados, abençoados não no sentido religioso, mas no significado de afortunado, fecundo, próspero. Mocambique parece tão distante, perdidos em seus conflitos políticos, sua guerra insana, na afastada África. E cada página que leio sinto tão próxima, tão sintonizada com nossa realidade.

Uma imagem reincidente de alguns contos fica martelando minha cabeça, o personagem enterrando-se. Seja a menina Novidadinha que foi colhida como uma flor pela terra, em " As flores de novidade "; como  Hortência, que para homenagear o falecido marido, deita-se na vala para que o companheiro morto venha abraçá-la, em "O calcanhar de Virgílio".
Deslumbrante é " O Cachimbo de Felizbento", onde com a chegada da guerra, Felizbento teria que sair de sua terra, sem poder levar suas árvores. Primeiro pensa em remover as árvores, levá-las consigo, mas desiste e prefere se enterrar naquela terra, gerando uma nova árvore, que na hora dos belos poentes africanos esfumaça, igual a uma chaminé.  

Certo dia caminhando esfomeado, procurando um lugar para comer em uma viagem, fiquei intrigado com o nome do restaurante: Inhaca. Entrei nele pensando como um restaurante podia ter um nome que remetia a fedor, catinga, má sorte conforme revela o Houaiss. Descobri que Inhaca é uma ilha, paradisíaca, na entrada da baia de Maputo, em Moçambique. Nada como Mia Couto, Lobo Antunes, Cesária Évora para revelar a África colonizada por Portugal, tão perto e tão longe do Brasil.

Adriana Varejão é artista plástica carioca, surgiu com a Geração 80, seu trabalho tem uma visceralidade extrema.No Inhotim, em Brumadinho-MG, tem um pavilhão dedicado à sua obra. Um dos elementos que marcam sua obra são os azulejos, a técnica de azulejaria lusitana.
Língua com Padrão Sinuoso é um tela de 1998 e pertence a série "Ruínas de Charque"

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