sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Pablo Trapero e Ricardo Darín em Elefante Branco


O cinema argentino consegue como ninguém contar grandes histórias, nos  últimos anos uma grande safra de competentes filmes argentinos fez uma multidão da fãs. Suas marcas são histórias com forte características humanistas, ironia, grande capacidade de fazer comédia com a própria desgraça, porém, com uma singela elegância.

Ricardo Darín é o rosto desse novo cinema argentino, a parceria com o diretor Juan José Campanella em O Filho da Noiva, Luna de Avellaneda e o premiado com o Oscar "O Segredo dos seus Olhos", todos com narrativas que emocionam pelo seu humanismo, pelos seus personagens cativantes renderam fama e sucesso.

Já a parceria de Darín com Pablo Trapero tem outra pegada, Trapero é visceral, seus filmes são de uma violência devastadora. Em Abutres, ludibriando pessoas vítimas de acidentes para beneficiar-se dos seguros, simulando acidentes para dar golpes nas companhias de seguro, desvendendo uma verdadeira máfia que vive em função desse crime.

Em "Elefante Branco" ,que estreou agora em SP, Trapero mostra um outro lado de Buenos Aires, o lado da miséria, uma favela criada em torno do esqueleto de um hospital, uma obra que não virou, um desses típicos projetos dos governos do passado, um hospital , que deveria ser o maior da América Latina e que vira um gueto tomado pelos narcotraficantes, onde na sua cobertura rola uma verdadeira cracolândia ( ou seria pacolândia ). Quanto tempo SP também teve seu esqueleto hospitalar na Av. Dr. Arnaldo, só não teve o mesmo processo de ocupação por causa da sua localização "nobre".

Darín é um religioso, um padre envolvido com a comunidade, tentando levar cidadania para aquele povo, no fogo cruzado da poder político, da cúpula da Igreja Católica e dos traficantes.

Impossível não comparar Cidade de Deus com Elefante Branco. O cinema argentino que focava a classe média portenha com esse novo filme de Trapero mostra a miséria, a favela, o tráfico , o "paco".


Impossível não relacionar o Padre Julián, o personagem de Darín, com vários religiosos que existem nas periferias, que herdeiros da Teologia da Libertação, hoje percebem a cúpula religiosa focada mais na liturgia, esquecendo uma tal de "opção preferencial pelos pobres" existente no passado, tempos atuais ditados por Ratzinger, vulgo Rottweiller de Cristo.


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