A ideia é muito atraente, fazer uma leitura das manifestações que ocorreram em junho de 2013 no Brasil através de 140 obras do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo. O título remete a uma rede social, o twitter, que limita em 140 toques a mensagem que pode ser postada, ou seja, o terror dos prolixos, o twitter exige a síntese como exercício cotidiano.
Tudo foi produzido como fruto de um Laboratório de Curadoria, que aconteceu no MAM, que expressou o desejo de organizar uma exposição com obras do acervo do museu que incitassem a reflexão sobre a mobilização política por meio de redes sociais.
A maioria das obras selecionadas são dos anos 70, anos de chumbo no Brasil, onde a arte em vários momentos expressou-se contra a ditadura militar brasileira. Como as manifestações de junho são um fato extremamente recente, que ainda está sendo digerido, estudado e decodificado, não existe no acervo do MAM obras que tenham sido produzidas impactadas por esse acontecimento.
O que poderia ser uma contradição acaba abrindo possibilidade de leituras novas para obras "antigas".
Declaración de los Derechos Humanos - León Ferrari - 2007
Uma mamadeira de plástico com uma xilogravura da Declaração dos Direitos Humanos, uma obra que discute a época da ditadura argentina. Uma imagem clara a Declaração como um alimento básico para crescermos e sermos cidadãos do mundo. Um mundo democrático.
Ironia do destino: em 2004, Leon Ferrari em uma exposição em Buenos Aires foi duramente atacado pelo cardeal Jorge Bergoglio, que dizia que a obra do artista " era uma blasfemia que envergonhava a cidade". O Centro Cultural Recoleta foi invadido por católicos conservadores que aos gritos de "Cristo Rei" destruíram várias obras de León Ferrari. O motivo da ira era a obra "A Civilização Ocidental e Cristã".
Justo no ano passado, o Cardeal Bergoglio foi eleito Papa e comanda a Jornada da Juventude no Rio de Janeiro, durante o período pós manifestações, e León Ferrari morreu aos 93 anos, em 25/7/2013, em Buenos Aires.
Tempo suspenso de um estado provisório - Marcelo Cidade - 2011
Uma placa de vidro com uma base de concreto e madeira, essa obra de Marcelo Cidade, discute o medo e a violência urbana, o vidro estilhaçado pela bala. Os conflitos e os traumas de viver numa sociedade com as características de intensa desigualdade social.
A partir das manifestações essa imagem ganhou outros significados, como não olhar para um vidro estilhaçado e não pensar nos Black Bloc. Esse novo ator social , que usa como tática de manifestação política a destruição de vitrines de bancos e lojas de grandes corporações.
O MAM SP com 140 Caracteres conseguiu abrir de forma instigante a sua temporada de exposições de 2014.
140 Caracteres
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Parque do Ibirapuera
De 28/01 a 16/03/2014