quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A cadeira de Barbeiro de Miguel Sousa Tavares


Estava hoje cortando meu cabelo, sentado vendo os cachos despencarem da minha cabeça , cachos cada vez mais com o predomínio do branco, quando veio uma imagem do último livro que li do Miguel Sousa Tavares, Madrugada Suja.

Miguel Sousa Tavares é um jornalista português que virou um best seller com o livro "Equador", tendo como característica uma literatura leve, envolvente e sempre com muitos elementos da história de Portugal. Podemos até dizer que a trilogia Equador, Rio das Flores e Madrugada Suja conta a história de Portugal do século XX, com o advento da República, o início da ditadura Salazar ,  a Revolução dos Cravos e a entrada de Portugal na Comunidade Européia.


Madrugada Suja foi lançado no Brasil, pela Companhia das Letras, no final de 2013, tem como cenário o Alentejo e o contexto histórico dos últimos 40 anos, da Revolução dos Cravos até os dias atuais. Miguel usa um pouco das imagens típicas do realismo fantástico latino americano, uma minúscula aldeia alentejana, Medronhais da Serra, que vai sendo abandonada por seus habitantes....até ficar apenas um, Tomaz da Burra, o avô do personagem central da trama.

Em uma pequena aldeia alentejana a divisão do espaço público entre os  gêneros fica evidente. No domingo de manhã enquanto as mulheres ficam dentro da Igreja, ouvindo as palavras do padre; os homens ficam na barbearia, ela é o centro da discussão da política, da vida social da aldeia. A barbearia muito mais que cuidar da aparência dos homens, ocupa o papel central na discussão da política da época, a barbearia é o parlamento de Medronhais da Serra.

O mais hilário é que com o definhamento da aldeia, com a morte dos idosos e com a migração dos jovens para Lisboa ou para outros países da comunidade européia, a Barbearia Central é fechada e Tomaz da Burra arremata no desmanche da barbearia a poltrona.

A poltrona , símbolo provinciano da democracia,  tribuna nas discussões acaloradas que lá ocorriam e concorria com o púlpito católico. A imagem da poltrona do barbeiro como centro da vida pública de uma pequena aldeia do Alentejo foi a que veio aos meus devaneios enquanto meus cachos caiam...

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